Nós
nos conhecemos há mais de 10 anos quando
eu, em meio a uma crise de depressão, descobri um jogador que tinha tudo para
ser vencedor dentro do clube que amava.
Numa
tarde de domingo, 10/06/2004, num greNAl, o clássico classificado por muitos
como o de maior rivalidade surgiu, ‘o rapaz cabeludo que saiu do banco de
reservas do Internacional para fazer história...’
Sim,
essa história todos nós conhecemos, mas é inevitável lembrar e se emocionar.
Nós
colorados ganhamos um líder, eu ganhei uma motivação para sair de casa e ir ao
estádio acompanhar ainda mais de perto o meu Inter.
A
raça que aquele rapaz demonstrou já na estreia me chamou a atenção e fui ler
mais sobre ele.
Nasceu
em Goiás, iniciou a carreira por lá, foi para a França e observado por Fernando
Carvalho, um ‘expert’ em talentos, veio para o nosso clube. Ele era simples.
Gostava de andar de chinelos, camisa surrada, bermudas de elástico na cintura,
falar ‘gírias interioranas...’
Adorava
estar no meio de gente humilde, cantar modas de viola, ouvir sertanejo de
raiz...
Ao
mesmo tempo sabia ser refinado, vestia-se impecavelmente em ocasiões especiais,
portava-se como um ‘Lord.’
E
também sabia liderar!
Quando
assumia algo, assumia além das responsabilidades e tornava-se O Gigante.
Seu
nome significava ‘Inteligente, Protetor.’ E isso, ele era...
Aos
poucos eu ia voltando a ter vontades... Vontade de sair de casa e ir ao
estádio, ouvir música, colecionar fotos daquele que seria mais tarde um amigo
querido.
Fernando
era menino sapeca. Adorava brincar, soltar sonoras gargalhadas, viver!
Foi
‘maestro’ da nossa primeira conquista da
Copa Libertadores em 2006 e teve uma parcela imensurável de contribuição na conquista do Mundial de Clubes, nosso título de maior expressão.
Tornou-se
além de um jogador referência, Diretor Técnico, Treinador e acima de tudo...
Torcedor dos mais apaixonados.
Sofria
com a distância do clube, da sua torcida, do seu povo!
Aos
nossos olhos foi uma passagem rápida por este plano, aos olhos de Deus, cumpriu
a sua missão.
Foram
36 anos alegrando pessoas da família, orgulhando uma mãe apaixonada, honrando a
família que gerou com extremo amor, dedicação e cuidado, amando
incondicionalmente a esposa, sua companheira da vida, eterna namorada, deixando
amigos a cada dia mais cheios de admiração, dando exemplos de raça, garra,
humildade e grandeza a torcedores dos clubes por onde passou ou não, com sua
gigantesca luz de líder – campeão.
Na
noite de 7/06/2014, o dia em que Fernando partiu, rumei ao Estádio Beira Rio
com alguns amigos. Lá, desde cedo, torcedores haviam escolhido um local, nenhum
melhor, o local onde já havia o título, Gigante Para Sempre...
Colocaram
o nome FERNANDÃO antes do título (que passou a ser: Fernandão, Gigante Para
Sempre), deixaram recados e mensagens escritas na parede, flores, velas,
lembranças...
Quando
cheguei ao local foi um impacto. Muitas pessoas, cantos, orações, lágrimas,
abraços e o que me soou curioso na hora, torcedores do maior rival do Sport
Club Internacional, nosso clube do coração, estavam lá. Um tanto quanto
tímidos, mas fardados com a camisa do seu clube, cantavam em meio à nossa
torcida, choravam, oravam, faziam silêncio...
Foi
emocionante! Conhecedores da pessoa Fernando Lúcio da Costa - Fernandão sabem
que ele estaria feliz em ver aquela união, afinal, sempre respeitou
adversários, a escolha e a trajetória do clube daqueles torcedores.
Na
minha vida como amante do futebol, desconheço passagem semelhante, um Gigante
que uniu as duas torcidas ditas de maior rivalidade em demonstrações de
admiração e respeito.
Esse
feito, somente poderia ter vindo daquele que aos meus olhos foi e sempre será O
Melhor de Todos, O Eterno Capitão do Mundo.
Fernandão
Eterno!
Luciana
Lima
* Texto que escrevi para participar do concurso cultural da FECI.
Serei condecorada com Medalha de Mérito Cultural Poético.
10/10/2014